Não se sabe exatamente como Wilson e Inês se conheceram. Ambos trabalhavam na região paulistana da rua Augusta, nos Jardins. Alguns relatos dão conta de que utilizavam o mesmo ponto de ônibus. Para outros, o jovem ourives fazia parte do grupo de rapazes que estava sempre às portas do salão de cabeleireiro para paquerar as moças que trabalhavam ali, como ela.
Fato é que conviviam naquele pedaço. Wilson era um rapaz vaidoso e andava bem arrumado, na moda da época. Calças boca de sino, camisa aberta, mocassim, bigode e costeletas. Fazia questão de andar perfumado e bem penteado. Levou para a vida o hábito de ter pentes à mão, como aquele redondo de encaixe nos dedos e outro de dois lados -um fino e um grosso.
Inês, uma “baixinha bonita”, diz o irmão Eduardo, interrompeu os estudos na pré-adolescência para ajudar a família, indo trabalhar na olaria de tijolos do pai. Aos 18, foi trabalhar na matriz do Jacques Janine na Augusta, onde desenvolveu o gosto pela cultura francesa -era apaixonada pela música de Charles Aznavour. Emocionou-se recentemente, ao enfim assistir um show do ídolo.
Casaram-se no início dos anos 1970. Inês gostava de cuidar dos outros. Às vezes até demais: um de seus bordões ao ligar para um dos três filhos que tiveram era “aonde você está e o que está fazendo?”, assim, sem nem dar oi.
Wilson era um passarinheiro. A casa da família era uma profusão de gaiolas e assobios, que se mesclavam aos sinos de vento que ela tinha. Ele desenhava e produzia joias. Trabalhou na H.Stern e sempre presenteou as mulheres da família com suas obras.
No último dia 24, após meio século juntos, ambos estavam internados na mesma UTI. Ela, por problemas respiratórios decorrentes das décadas de cigarro. Ele, em função de uma série de complicações ocasionadas por causa da encefalopatia hepática pelo abuso da bebida. Cada um tinha o seu vício, afinal.
Os médicos avisaram que os órgãos de Inês estavam parando de funcionar. Cercada pela família, ela se foi, aos 69. Enquanto os parentes rezavam por ela, novo aviso médico. Ao lado, o coração de Wilson, 72, passarinhava. Morreram em um intervalo menor do que uma hora. “Você não vai ficar aqui sozinho”, ela provavelmente teria dito.
O casal deixou os três filhos, Wilson Júnior, Andreia e Gabriela, seis netos e um bisneto. Inês deixou ainda a mãe e dois irmãos. Wilson, uma irmã. (Com informações da Folhapress.)
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