A titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima do Rio de Janeiro, Cristiana Bento, que assumiu a investigação do caso de estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos na zona oeste da capital fluminense, disse hoje (6) que a vítima foi violentada duas vezes: pelo estupro e pela sociedade.
“Ela é vítima dos autores daquele ato de violência e da sociedade, que subtraiu dela os valores morais, sociais”, disse a delegada em audiência sobre cultura do estupro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). “Muitas meninas não sabem sequer que sofrem abusos, como o caso dessa menina. Ela não sabia, não tinha essa noção. Nas comunidades (favelas) isso é normal, ela está ali e tem que se sujeitar a isso. Cresceu vendo isso.”
Para coibir os estupros, Cristiana Bento defendeu a ampliação de campanhas de conscientização e da fiscalização em vez de mudanças na lei “Nossas leis são boas, precisamos apenas de sua execução e fiscalização.”
Segundo a delegada, as investigações estão avançadas e os três homens que aparecem no vídeo em que a vítima aparece desacordada e nua já foram identificados e presos. Para ela, a apreensão de um celular na sexta-feira passada (3) na casa de um amigo de um dos suspeitos foi crucial para a investigação. “Para quem tinha dúvidas, com esse celular elas se acabam. Vemos nitidamente o estupro de vulnerável ocorrendo.”
A quantidade de homens que participaram do crime, 30 de acordo com a apuração inicial, ainda não está confirmada, segundo a delegada. “Mas a quantidade não importa tanto, mas sim que estamos identificando esses personagens, que houve um abuso e que essa adolescente é vítima”, disse.
Cristiana Bento lamentou que esse tipo de crimes seja subnotificado. “A maioria dos adolescentes abusados, mulheres, não revelam por vergonha, por medo, por não querer reviver aquele trauma. Nos crimes sexuais a palavra da vítima é muito importante. Precisamos empoderá-la”, defendeu a delegada.
Perguntada se delegado Alessandro Thiers, da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, que estava à frente das investigações antes dela foi machista no tratamento à vítima e ao cogitar que não houve estupro, Cristiana defendeu o colega.
“Não sei o que aconteceu, ele estava no início das investigações, deveria ter tido algum dado que o levou para esse lado.” Para a delegada, o machismo nas delegacias tem diminuído com cursos e palestras sobre a questão do gênero. “Acho que estamos trabalhando e construindo esse respeito.”
Já a deputada estadual Martha Rocha, que também é delegada, classificou a atuação de Thiers de machista. “É fato que o atendimento inicial dado a essa vítima teve um viés de preconceito. Espero que se apure uma possível transgressão ou não do delegado Alessandro Thiers”, disse, ao comentar que o machismo presente nas delegacias brasileiras é fruto de uma sociedade machista.
Fonte:EBC
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