Em pedido de investigação enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que a organização criminosa na Petrobras não teria funcionado sem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantivesse controle das principais decisões. Segundo o procurador, Lula também tentou obstruir as investigações sobre o caso.
“Essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse”, afirmou o procurador-geral.Janot pediu a inclusão do nome de Lula em um inquérito e uma denúncia que já estão abertos no STF. O documento chegou ao Supremo nesta segunda-feira (2) e foi aberto para acesso público nesta terça (3).
Em nota, o Instituto Lula negou participação do ex-presidente nos fatos investigados na Operação Lava Jato e disse ainda que ele “não deve e não teme investigações.
Inquérito
Rodrigo Janot pediu ao STF a inclusão de Lula e outras 29 pessoas no maior inquérito sobre a Lava Jato, que trata das suspeitas de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção. Para a Procuradoria-Geral da República, uma “organização criminosa” atuava para desviar dinheiro da Petrobras.
Ao falar sobre o PT, Janot indica uma atuação de “forma verticalizada, com um alcance bem mais amplo do que se imagina no início e com uma enorme concentração de poder nos chefes da organização”. Em seguida, menciona Lula e outras pessoas ligadas a ele.
O procurador-geral diz que há evidências de que Lula participou da nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora, em 2008, como reconhecimento pela atuação dele para contratação do grupo Schahin pela Petrobras. O grupo opera a sonda Vitória 10.000. Após a contratação, foi quitada uma dívida que o PT e o empresário José Bumlai tinham com o banco Schain.
Por causa da indicação para a BR, “Cerveró afirma que Lula sabia da sua atuação na quitação da dívida de campanha do PT”, segundo manifestação de Janot.
Ele afirmou ainda Lula comandou o “esvaziamento” de uma CPI da Petrobras em 2009 e que permitiu que Fernando Collor de Mello tivesse influência política sobre a BR Distribuidora, em troca de apoio do PTB na CPI da Petrobras.
Caberá ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, autorizar a inclusão dos novos suspeitos no inquérito, que já conta com 39 investigados. Se for autorizada a inclusão, a investigação passa a ter como alvo 69 pessoas.
Denúncia
Janot apresentou ao STF documentos e escutas para mostrar que Lula tentou comprar o silêncio de Cerveró nas investigações da Lava Jato. Se a denúncia for aceita, o ex-presidente vira réu no STF.
“As investigações ganharam novos contornos e se constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Maurício Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves, dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida”, diz a peça.
A suspeita de que Lula seria interessado no silêncio do ex-diretor foi relevada na delação do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS). Ele contou que Lula também tinha interesse em ajudar a família de Cerveró, mas por meio de Bumlai, que faria os pagamentos.
Janot incluiu na denúncia documentos que atestam reuniões entre Lula e Delcídio “no período coincidente às negociatas envolvendo” Cerveró, além de registros de diversas conversas telefônicas entre Lula e Bumlai e entre este e Delcídio.
“Embora afastado formalmente do governo, o ex-presidente Lula mantém o controle das decisões mais relevantes, inclusive no que concerne as articulações espúrias para influenciar o andamento da Operação Lava Jato, a sua nomeação ao primeiro escalão, à articulação do PT com o PMDB, o que perpassa o próprio relacionamento mantido entre os membros deste partidos no concerto do funcionamento da organização criminosa ora investigada”, disse Janot na peça apresentada ao STF.
Essa denúncia, que foi apresentada inicialmente contra o senador Delcídio do Amaral e o banqueiro André Esteves, está sob segredo de Justiça.
Caberá ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, levar a peça para análise da Segunda Turma do STF, também composta pelos ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Celso de Mello e Dias Toffoli. Se a denúncia for aceita contra todos os acusados, eles se tornam réus numa ação penal.
Íntegra da nota do Instituto Lula
A peça apresentada pelo Procurador-Geral da República indica apenas suposições e hipóteses sem qualquer valor de prova. Trata-se de uma antecipação de juízo, ofensiva e inaceitável, com base unicamente na palavra de um criminoso.
O ex-presidente Lula não participou nem direta nem indiretamente de qualquer dos fatos investigados na Operação Lava Jato.
Nos últimos anos, Lula é alvo de verdadeira devassa. Suas atividades, palestras, viagens, contas bancárias, absolutamente tudo foi investigado, e nada foi encontrado de ilegal ou irregular.
Lula sempre colaborou com as autoridades no esclarecimento da verdade, inclusive prestando esclarecimentos à Procuradoria-Geral da República. O ex-presidente Lula não deve e não teme investigações.
Fonte:G1
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